P.
2 min readDec 14, 2019

PCD NÃO É MOEDA DE TROCA

É muito desgastante debater pauta de PCD no Brasil.
Já foi comprovado que pra autistas redes sociais são um ferramenta eficaz de expressão, então talvez eu me faça entender melhor aqui: por que é aceitável que enquanto Ministério do Trabalho e Ministério da Economia dão atropelo no Conade nas esferas social, educacional e trabalhista eu tenha que articular com políticos considerados retrógrados pelos meus colegas? Porque a ampla gama de educadores no meu contexto social ainda nos trata como verba e problema, porque é ignorante sobre nós e rumina estereótipos.
Não é elogio pra mim ouvir que tenho o "autismo com frescura" (pasmem: isso foi uma professora falando sobre o que antes denominavam Síndrome de Asperger) ou que pra autista eu entendo melhor as coisas que outras pessoas por razões simples: eu não tenho déficit cognitivo , é mito que autistas não tenham empatia, não é benéfico se valerem da inteligência preservada pra ignorar o resto e só na cabeça de neurotípico eles são o parâmetro admirável e desejável de compreensão de mundo. A incidência de superdotados na população neurotípica é baixa, a incidência de autistas na de superdotados não é, isso é o que se chama dupla excepcionalidade e precisa de suporte porque gera outros déficits.
Se a chance de um autista ter problemas intestinais é 2,5 vezes maior e tem paper sobre isso, não é aceitável tratarem diarreia crônica como fatalidade.
Se um pai pesquisando sozinho (como é comum quando a medicina tradicional falha) liga pontos pra tratar a inflamação do filho com ovas de verme de porco que não sobrevivem nem causam mal a humanos e leva a sugestão (já aceita) ao Albert Einstein College of Medicine, não especialistas não são ignorantes acerca de si.
Passou da hora de tomar vergonha na cara e repetir "isso é novo pra nós" pra validar descaso. Se não interessa, parem de tratar como pauta exclusiva de algum segmento e parem de falar o que não sabem a respeito do problema. Nós estamos cansados de sermos usamos em discursos e nunca tratados com o respeito e prioridade que merecemos.
É uma parcela enorme da população marginalizada e boa parte dela não nasceu assim, foi fruto de falta de vacina, acidente ou doença. As pessoas precisam de desgraça e medo pra se mover? Nosso discurso precisa sair do racional pra ser levado a sério?
Eu tô muito cansada. A verdade é que as pessoas gostam do PCD em miserabilidade e desemparado, porque assim tudo que elas falarem a cerca de precisa ser aceito; quando um de nós sabe argumentar é o maldito que deveria produzir e se enquadrar como os outros, que incomoda porque saiu do estigma dos papéis sociais atribuídos ao estereótipo que a sociedade acredita que lhe cabe e tá raivosa por ser frustrado, evidencia a ignorância e má vontade.

P.

Lesbofeminista, liberal-socialista, autista, licenciada em Filosofia e Matemática.