P.
2 min readApr 7, 2019

A Esquerda das Frases de Efeito no Mundo Paralelo de Batalhas Quixotescas

Nas eleições de 2018 lembro perfeitamente de chegar aqui um pouco antes da primeira parcial dizendo que era possível Bolsonaro ter levado o primeiro turno e notar um espanto generalizado, espanto esse que virou uma constante de quem tinha como certo o apocalipse, um bom exemplo de paradoxo.

Com tranquilidade de quem tem fixação pelo tema, digo que é fácil distinguir quem acompanha mais polêmicas ou debates: os primeiros costumam ser os que perdem tempo pra chamar de inútil a “perda de tempo” em crítica alheia quando atinge o próprio grupo, mas adoram a frase de efeito pra ridicularizar o oponente. O avesso do “teu líder tá preso” é o “e as laranjas?”? A mim não parece, ambos repetem bordões e minam discussões.

Quem acompanhou as discussões na Comissão de Justiça da Câmara assistiu Guedes perdendo a linha após provocação, mas viu muito mais. Enquanto uma bolha acredita que deixou explícita as injustiças da proposta da previdência, a maioria com aversão ao partido que invocou a Furacão 2000 para ilustrar os beneficiados e prejudicados da reforma viu o ministro da Economia pontuando que servidores perderam aposentadoria integral em 2003 pro mesmo partido fazendo reforma, que também na gestão desse partido veio capitalização para complementar aposentadoria de servidores, que mulheres perderam 50% das pensões em outro mandato, que a desoneração de empresas e subsídios no PIB saltaram de 2% pra 4% pra quem muito lucra nesse mesmo governo e que pior que o Chile está a Venezuela. Para quem está atento, o moinho de vento perdeu uma parede, para a direita veio a relativização de que prejudicar a população não é ato exclusivo de quem entrou, que na verdade não há crueldade aí, mas boa vontade de quem pensa a longo prazo e que estão dispostos a ouvir, perigando sair de mais do mesmo.

Nessa mesma semana saiu uma pesquisa no Legislativo apontando o presidente como uma cara medíocre por nota atribuída, sua ministra da Agricultura é a mais bem quista por beneficiar donos de terras e agrotóxicos, seu ministro da Economia também bem avaliado é acompanhado pelo da Justiça. Entendem de onde vem a surpresa quando chega o esporro? Embora seja necessário expressar reprovação popular e bater na situação, o lacre/polêmica não vai ser suficiente, as partes impopulares (o famoso bode na sala) vão cair e o resto que já era núcleo da proposta passa.

Sem os pés na realidade, honestidade e articulação de fato, nós não temos a menor chance, só o regozijo numa bolha que faz papel de Sancho Pança corroborando que vencemos gigantes, cheia de ditados populares, entrando cada vez mais na ilusão e montada no burro que é o populacho, culpa de anacronismo e falta de diálogo.

O país inteiro não é fascista, é “democrata” que despreza o consenso, o anti-democrata de ouvidos fechados delirando que o outro lado é um monstro a ser abatido.

P.

Lesbofeminista, liberal-socialista, autista, licenciada em Filosofia e Matemática.